WING CHUN - SUA HISTÓRIA

O estilo Wing Chun

Siu Nim Tau

É o primeiro kuen tou, forma de punho do estilo. Siu Nim Tau quer dizer "uma pequena idéia". O siu nim tau contém todas as técnicas do estilo, é o abecedário do estilo wing chun. Os antigos mestres costumam afirmar que o siu nim tau é a forma mais difícil de ser compreendida pelo iniciante. É um kuen tou para geração de energia e deve ser praticado sem força bruta.  

A autêntica energia provém do processo de relaxamento dos músculos, tendões e juntas; a força incorretamente usada impede a compreensão, expressão, veiculação da energia por parte do aluno. 'O novato não deve fazer força'.  

Cam Kiu

É o segundo kuen tou do estilo e significa "buscar e destruir a ponte" do adversário como: braços e pernas. Complementa a primeira forma e exige mais força física e potência interna. Cam Kiu é um kuen tou mais movimentado com andadas, giros e chutes. Deve ser praticado com energia, com vigor. 

Com a prática constante da segunda forma o estudante de Wing Chun aprende como equilibrar a energia vital denominada Chi (Hei em cantonês, e Qi em mandarim). 

Biu Zi

É a terceira forma do wing chun. O termo Biu Zi pode ser traduzido como "dedos voadores", ou ainda “dedos como ponteiro”. Seus movimentos mostram as características da serpente e da garça. Antigamente o biu zi era considerado secreto, permanecendo apenas entre os discípulos mais próximos do mestre. O Biu Zi representa o alto grau no wing chun, permite que o praticante transmute sua energia e use-a de acordo com suas necessidades.  

Com as três formas (SIU NIM TAU, CAM KIU e BIU ZI), é possível ao aluno-praticante compor alternativas diversas de ataque e defesa. A posição do lutador é sempre frente a frente. Os ataques são rápidos e precisos; sempre desferidos a curta distância, com potência e explosão.  

Muk Zong

Há ainda, além de outros tantos recursos de prática, um treinamento avançado, utilizando como adversário o chamado “boneco de madeira” ou Muk Zong, onde se aplicam todos os golpes aprendidos nas três formas. A prática no Muk Zong aumenta a resistência dos braços, pernas e corpo de um modo geral. Faz-se necessário o uso de um ‘preparo medicinal especial’ para evitar danos externos e internos. Cada mestre orienta seu discípulo na manipulação desses preparos terapêuticos. 

O Muk Zong auxilia na apuração de energia, personaliza a expressão de cada praticante, e serve para requintar as técnicas aprendidas anteriormente.  

Luk Dim Bun Gwan

Após este estágio acima mencionado, há o aprendizado do bastão longo - Luk Dim Bun Gwan - e da faca curta - Baat Zaam Dou -, armas originadas dos artistas de óperas chinesas, que viajavam e moravam em barcos.  

Uma vez refinado o CHI ou QI (Hei em cantonese) o indivíduo estará apto a projetá-lo, seja por meio de um bastão - Luk Dim Bun Gwan -, de um cabo de vassoura ou de um exemplar de revista.  

Baat Zaam Dou

A Baat Zaam Dou representa o mais alto nível do estilo wing chun, é a síntese da energia. 

Neste estágio, o indivíduo adquire a verdadeira expressão do wing chun kung fu, a essência da arte: estratégia perceptiva, espaço, momento oportuno e energia.

A história do Wing Chun Kung Fu

Wing Chun Kung Fu tem sua origem na turbulência da repressiva dinastia Ching (Qinq 1644 a 1911). Nesta época, a grande maioria dos chineses - os Hans (da dinastia Ching/Qing), era dominada pelos Manchus. Os Manchus ditavam as regras e cometiam muitas injustiças; nessa época o Kung Fu era proibido ao povo em geral, porém mantinha-se vivo e cada vez mais forte, para a ira do governo Manchu.

A destruição de Shaolin

Quando todas as armas foram banidas pelos Manchus, os Han começaram a formar e treinar um exército revolucionário na arte do Kung Fu. O templo Shaolin tomou-se um refúgio secreto para treinamentos preparatórios em um estilo clássico que levava quase duas décadas para que alguém alcançasse o grau de mestre. Com o intuito de formar rapidamente um exército revolucionário e desenvolver uma nova forma que levasse menos tempo para se aprender, os principais mestres do templo se reuniram para discutir os pontos fortes e fracos de cada uma das várias formas de Kung Fu; porém, antes de finalizarem esta nova forma, os Manchus invadiram e queimaram o templo. 

Os sobreviventes

Segundo alguns autores, 15 discípulos sobreviveram ao ataque, mas somente seis tiveram seus nomes guardados. Quanto aos cinco mestres sobreviventes, são: a monja budista N'g Mui, abades Cheen SinPak Mey, mestres Fung To Tak e Miu Hin que sobreviveram e seguiram caminhos diferentes. N'g Mui, que era a mais avançada neste novo sistema de Kung Fu, refugiou-se no templo da Garça Branca (Pak Hok), no monte Tai Leung. Lá conheceu Yim Yee, um comerciante local de vagens e sua filha Yim Wing Chun, que devido a sua beleza, muitas vezes provocava o assédio de muitos, inclusive de valentões locais.

N'g Mui

Percebendo que o problema pelo qual a jovem Yim Wing Chun passava era sério, N'g Mui decidiu-se por ensinar a ela a arte marcial chinesa Kung Fu, para que pudesse se defender.N'g Mui refugiou-se então com Yim Wing Chun nas montanhas, e passou a ensiná-la. Treinaram dia e noite, até que Wing Chun dominasse as técnicas.

O desafio

Decidida em livrar-se do problema que o afligia, Yim Wing Chun desafiou aquele que a assediava para um combate e o derrotou. Segundo algumas fontes, o valentão foi vencido com um golpe de palma desferido pela jovem. A história conta que o valentão ficou envergonhado e saiu da cidade, deixando a jovem Wing Chun livre para se casar com o mercador de sal de nome Leung Bok Chau, que era ótimo praticante de Kung Fu, e a ele transmitiu seus conhecimentos. Em homenagem a sua esposa, Leung Bok Chau denominou o estilo de Wing Chun Kuen (Punhos de Wing Chun, ou Estilo Wing Chun).

Segundo algumas versões, o valentão teria morrido tempos depois com problemas de saúde provenientes do golpe desferido pela jovem Yim Wing Chun.

O patriarca Ip Man

Depois aprender o estilo com sua esposa, Leung Bok Chau passou seus conhecimentos para Leung Lan Kwai, um médico herbalista, que por sua vez ensinou a um ator de ópera chinesa de nome Wong Wah Bo

Wong Wah Bo foi trabalhar num dos barcos que viajavam pela China promovendo espetáculos e lá passou transmitiu a arte para o bastoneiro do barco, Leung Yee Tei, que também havia sido aluno do abade Cheen Sin (especialista em bastões). 

Juntos eles desenvolveram novas técnicas de Wing Chun, inclusive com bastões. Leung Yee Tei por sua vez ensinou para Leung Jan, um médico da cidade de Fat Shan, que desenvolveu uma técnica tão apurada que recebeu o apelido de o Rei do Kung Fu Wing Chun. 

Leung Jan passou o sistema de forma modificada para Chan Wah Shun(trocador de dinheiro), devido a esse ser muito forte e Leung Jan não confiar muito nele e achar que após sua morte, poderia haver problemas quanto a sucessão como líder da escola. Leung Jan também ensinou seus dois filhos: Leung Tsun e Leung Bik

Yip Man, considerado o último grande mestre de Wing Chun, aprendeu primeiramente com Chan Wah Shun e posteriormente aprendeu a versão original com o filho mais novo do rei do Wing Chun, Leung Bik. 

Com Yip Man, o Wing Chun tomou-se mundialmente popular e respeitado. Yip Man é tido como o Patriarca do Wing Chun

Dentre os vários alunos de Yip Man, tinha um que se chamava Moy Yat. Mestre Moy Yat, por sua vez, teve como seu primeiro aluno particular o jovem Wong Wai Chung.

Mestre Lo Siu Chung

Mestre Lo Siu Chung nasceu em Hong Kong, China, no ano de 1943. Imigrou-se para o Brasil em 1969, sendo considerado o pioneiro do kung fu estilo wing chun kuen neste país. Inicialmente estabeleceu-se nas cidades de Amparo e Serra Negra, onde ministrou aulas do estilo wing chun kuen em clubes locais. Posteriormente mudou-se para São Paulo, onde montou sua academia por volta de 1976 na rua Augusta. Entre os anos de 1980 e 1984 lecionou apenas de forma particular. Em 1987 mestre Lo Siu Chung voltou a ensinar em academia.  

Seu início no Wing Chun Kung Fu

Interessado em técnicas de kung Fu, Lo Siu Chung conheceu na faculdade em Hong Kong, o sr. Wong Wai Chung (Greco Wong), tornando-se seu discípulo direto. Greco Wong era conhecedor de Wing Chun Kung Fu. 

Em Hong Kong mestre Lo teve sua técnica avaliada pelo já falecido mestre Lok Yu. Fora apresentado também, a outros mestres de Wing Chun como Leung Sheung; interessou-se também pelo aprendizado de técnicas de outros estilos internos como Tai Chi Chuan, Pa Kua e treino com armas tradicionais do kung fu como: Faca Borboleta, Facão Tradicional, Lança, Espada e Bastão Longo.  

Lecionando Wing Chun no Brasil

Foi em 1972 que mestre Lo introduziu o estilo de wing chun kuen na cidade de Serra Negra, no estado de São Paulo, em um clube local.  

Posteriormente se estabeleceu na cidade de São Paulo, onde montaria academia na rua Augusta em 1976. Nesta época recebeu como alunos Jose Clovis Lemes, Jose Adami, Francisco Dias e outros. O ensino de Jose Clovis Lemes e Jose Adami foi feito inicialmente de forma particular. Clovis Lemes apresentou Mestre Lo ao Corpo Consular Britânico, onde o Mestre passou a trabalhar com ele e Jose Adami por muitos anos. Francisco Dias se tornou o praticante mais assíduo dessa fase em diante.  

Em 1987 Mestre Thomas Lo volta a ensinar publicamente na Associação Paulista de Tai Chi Chuan, no bairro de Pinheiros, São Paulo. Nesse ano, torna-se seu aluno Erasmo Deterra, natural da Bahia, recém-chegado do Rio de Janeiro (Sociedade Budista do Brasil). Em 1996, a convite do sifu Lo Siu Chung, Deterra passa a integrar a Família Lo de Wing Chun Kung Fu. Erasmo Deterra mantém em sua cidade (Xiquexique-BA) a Escola Tradicional de Arte Marcial Chinesa.  

Em 1996 Thomas Pinheiro (praticante de wing chun desde 1982 e ensinando desde 1989) torna-se seu discípulo, mantendo treinamento tradicional, com aprendizado direto com mestre Lo até os dias de hoje. Durante os anos de 1996 a 2003 o consultório do mestre Lo com aulas especiais mantiveram-se na atual Academia Pinheiros com ensino de wing chun a cargo de Thomas Pinheiro, supervisionado pelo mestre Lo. Desde 2005, juntamente com seus discípulos Francisco Dias e Thomas Pinheiro participa da banca examinadora dos alunos da Wing Chun Kuen Pinheiros.  

Medicina Chinesa

Mestre Lo Siu Chung se aposentou do Consulado e atualmente (2008) mantem juntamente com sua discípula Márcia Hidemi um centro de terapia chinesa no qual exerce a prática de acupuntura, moxabustão, tui na e utilização de ervas medicinais chinesas, como acupunturista graduado na China, em seu espaço denominado "Si Yuen Ton", em Pinheiros, São Paulo.  

Além de outros, mestre Lo integra a diretoria da AZYMEC (Associação Zhong-Yi-Yao de Medicina Chinesa do Brasil), filiada à World Federation of Chinese Medicine Societies tendo participado, a convite do governo chinês, de simpósios em território chinês.  

Outros Trabalhos

Mestre Lo também ocupou o cargo de representante da Cheung Kwok Tai Wushu Association (associação de kung fu que reside em Hong Kong, da qual preside o mestre de kung fu dragão, Cheung Kwok Tai) entre os anos de 1996 e 1998 no Brasil.

Reconhecimento 

Mestre Lo Siu Chung é reconhecido, por outros mestres e alunos, como sendo um dos poucos mestres respeitáveis que ensina Wing Chun Kuen tradicional, sem praticamente variações, no Brasil e no Mundo.

A Família Lo de Wing Chun Kung Fu

Veja, a seguir, os discípulos que compõem a Família Lo de Wing Chun Kung Fu.  

Francisco Dias

Natural de São Paulo - SP - Brasil, começou a treinar o estilo Wing Chun Kuen da Família Lo em meados da década de 70. Destaca-se como o discípulo mais antigo do mestre Lo Siu Chung, sendo até hoje um dos seus principais colaboradores.  

Márcia Hidemi

Natural de São Paulo - SP - Brasil, é discípula do mestre Lo desde 1992. A partir de 1996, tornou-se assistente do sifu, coordenando suas atividades (aulas, cursos, consultório). Num esforço próprio, colaborou diretamente para que o mestre Lo pudesse ter sua própria academia e consultório. Juntos, em 2003, inauguram o espaço Si Yuen Ton.  

Erasmo Deterra

Nasceu no município de Gentio do Ouro, Bahia, no ano de 1966. Aos 11 anos de idade migrou-se com sua família para a cidade de Xique-Xique, estado da Bahia - Brasil. É discípulo do mestre Lo Siu Chung desde 1987. Fundou em sua cidade a Escola Tradicional de Arte Marcial Chinesa. É representante da Família Lo de Wing Chun Kung Fu , na Bahia.  

Sidnei Assis

Natural de São Paulo - SP - Brasil. Começou a treinar o estilo Wing Chun Kuen da Família Lo em meados da década de 70. Destaca-se como um dos discípulos mais antigos do mestre Lo Siu Chung, e um dos principais divulgadores de seus ensinamentos.  

Thomas Pinheiro

Natural de São Paulo - SP - Brasil. Começou a treinar o estilo Wing Chun Kuen da Família Lo em meados de 1997, tornando-se discípulo e colaborador do mestre Lo Siu Chung.